CYVA
Cyva Ribeiro de Sá Leite (Ibirataia, 18 de março de 1938)
Em meados dos anos de 1960, o Quarteto em Cy despontou como um conjunto musical feminino singular, dividindo espaço e repertório com grupos como MPB4, Trio Irakitan e Copa Trio. Inicialmente apelidadas por Vinicius de Moraes como “as minhas baianinhas”, Cyva, Cynara, Cybele e Cylene conquistaram autonomia profissional e história própria, destacando-se na rede musical de sociabilidades que se estabelecia no país. Conciliando a vida noturna nas casas de shows do Rio de Janeiro com trabalhos de professora, vendedora e secretárias, as “meninas em Cy” gravaram composições de Tom Jobim, Dorival Caymmi, Benito de Paula e Chico Buarque, entre outros grandes nomes da MPB. Em entrevista a A música de: História pública da música do Brasil, Cyva Ribeiro de Sá Leite, a primogênita das quatro irmãs nascidas em Ibiritaia, cidade pequena ao Sul da Bahia, relembra a longa história de sua paixão pelo Rio de Janeiro e o primeiro lampejo que a fez sonhar com a formação de uma dupla profissional com a irmã Cybele. Conta que, ainda em Salvador, ambas inspiravam-se em mulheres como Adelaide Chiozzo e Eliana Macedo para interpretar Beijinho doce (1945) nas rádios. Cyva reconstitui com cuidado suas grandes aventuras na vida, desde a chegada ao Rio em 1962, sozinha e com apenas 22 anos, até o cotidiano de festas em Los Angeles ao lado de artistas famosos de Hollywood, em 1966.
Escute Cyva
As três sugestões imperdíveis de “A música de”
- Barravento: composição de Sérgio Ricardo gravada pelo Quarteto em Cy em seu disco de estreia, lançado pela gravadora Forma em 1964 Ouça no Spotify.
- Image: versão de Ray Gilbert para a canção Imagem, de Luiz Eça e Aloysio de Oliveira, incluída no disco Pardon my English: The Girls from Bahia, lançado em 1967 para apresentar o quarteto ao mercado internacional. Ouça no Spotify.
- Samba de uma nota só: registro do clássico de Tom Jobim e Vinicius de Moraes gravado em 1989, ao vivo, em Tokyo. Ouça no Spotify.
A ARTISTA EM UMA IMAGEM
Fotografia é história
"A MÚSICA DE" ENTREVISTA CYVA
PARTE 1/2
Nesta primeira parte da entrevista, Cyva enumera seus primeiros ídolos: Vicente Celestino, Linda Batista, Dalva de Oliveira, Emilinha Borba e Marlene. A cantora volta à infância, “quando Cynara sequer havia nascido”, e dimensiona a importância das histórias contadas por sua avó materna, Amanda, que teriam alimentado seu desejo de sair da Bahia e viver no Rio de Janeiro. Concluído este primeiro plano, muitos anos depois, ao se formar como professora de português e latim, ela destaca a saudade da família, a vontade de ter as irmãs por perto, e, em seguida, as dificuldades trazidas pela insistência em estender às quatro irmãs sonhos que eram apenas seus. Conhecida entre artistas e produtores de Salvador por cantar desde criança, Cyva explica como o Quarteto em Cy caiu nas graças de Vinicius de Moraes e, como, por fortuna ou fatalidade, o poeta as deixou “órfãs” para fugir do país com a amada Nelita Abreu Rocha. A voz serena da senhora que conta agora mais de 80 anos relembra, no início da carreira, a dupla jornada com ensaios noite adentro, e trabalho diurno incansável como professora de colégios públicos e particulares entre a Zona Sul e as últimas estações do trem carioca, como a antiga Matadouro, em 1962.
PARTE 2/2
A segunda parte da entrevista é marcada pelas lembranças do amadurecimento musical de Cyva e do Quarteto em Cy após a persistência do produtor e amigo Carlos Castilho em organizar o grupo e ensaiá-las. Traços da atmosfera cultural que viveram surgem com a reconstituição do cenário das boites e bares que formavam o chamado “Beco das Garrafas”, em Copacabana; por ali circulavam nomes como Jorge Ben Jor, Os Cariocas e Rosinha de Valença. A memória da gravação do primeiro LP em 1964 é apresentada em suas diversas camadas de experiências e esferas emocionais que acompanharam o reconhecimento de público, por um lado, e o contato mais direto com o competitivo mercado da música em fase de consolidação no Brasil. A história do encontro profissional e afetivo de Cyva com o importante produtor Aloysio de Oliveira (1914-1995) é seguida dos percalços sofridos pelo Quarteto em Cy no momento em que as “baianinhas” decidiram trilhar rumos distintos. Nessa trajetória, a cantora destaca o show Resistindo, em 1977, realizado apenas pelo Quarteto, pois até então elas acompanhavam grandes nomes da música; e o sucesso internacional, descrito como muito maior do que aquele alcançado no Brasil. Cyva apresenta os projetos atuais de que participa ainda hoje e ressalta a qualidade do trabalho realizado ao longo de uma carreira coerente que contou com excepcionais arranjos e a gravação de composições inesquecíveis.