“Rio de Janeiro que eu sempre hei de amar”: memória e visibilidade nas narrativas lítero-musicais e biográficas de Ruy Castro
Autor(a)
Manoel Messias Alves de Oliveira
Orientador(a)
Prof. Dr. Wilton Carlos Lima da Silva
Instituição
Unesp – Universidade Estadual Paulista
Tipo de pesquisa
Mestrado
Data de defesa
02 de agosto de 2023
Como você resumiria sua pesquisa em uma frase?
Estudo analítico das narrativas lítero-musicais e biográficas de Ruy Castro como produções de memórias da música popular brasileira.
Qual a questão central da sua pesquisa?
O processo de monumentalização de gêneros musicais, intérpretes, cantores, compositores, escritores, jornalistas e aficionados e, até mesmo, do próprio Ruy Castro como jornalista cultural, analisando como o campo entra em disputa entre uma memória dita oficial e as memórias subterrâneas.
Que fontes e métodos você utilizou?
Os livros foram analisados enquanto produções de memórias, sem deixar de levar em conta o contexto de produção da narrativa. Para que a viabilização do estudo fosse possível, foi preciso nos inclinarmos nas discussões sobre música popular brasileira, biografias e memórias, memorialismo, história e biografias e jornalismo e biografias, de tal forma que pudessem dialogar com as fontes selecionadas. Diante disso, analisamos os epitextos públicos que envolvem as narrativas de Castro, como o autor dialoga com os seus personagens ou entrevistados e quais são os espaços por onde o jornalista e seus personagens circulam.
Fontes:
CASTRO, Ruy. Carmem: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
CASTRO, Ruy. A noite do meu bem: a história e as histórias do Samba-Canção. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
CASTRO, Ruy. Chega de saudade: a história e as histórias da Bossa Nova. 4. Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2016 [1990].
Quais foram suas principais conclusões?
Percebemos que o autor apresenta um texto impregnado de nostalgia, procurando acessar o passado, ouvindo aqueles que o protagonizaram, revivendo-o por meio de uma ponte e enfatizando constantemente a lucidez de seus informantes. Muitas dessas pessoas integram as suas narrativas e compõem os seus círculos de amizade ou de trabalho. Logo, as narrativas de Castro possuem uma dimensão memorialística, atrelada ao colecionismo e à produção de memória sobre os lugares e personagens da cidade. Assim, ele é o “defensor do Rio”, o “colecionador da cidade” e o “entusiasta” apaixonado pela capital.
Com o levantamento dos lugares, personagens e gêneros musicais que integram a narrativa de Castro, percebemos que seu trabalho está mais envolvido com uma memória canônica de uma linhagem da música popular, estabelecida entre 1930 e 1960, conduzida pelo samba e pela bossa nova, apesar de se debruçar em uma memória social do samba-canção. Castro negocia uma identidade narrativa, a qual, junto aos seus epitextos públicos, também acaba falando dele mesmo. Como um cronista da cidade, possui uma fixação e interesse incansável por ela, como de alguém que a vive intensamente, criando laços afetivos e sentimentos topofílicos. O espaço criado em suas narrativas (e aqui também se inserem suas crônicas) torna-se, portanto, um arquivo de lembranças afetivas e realizações esplêndidas e, por isso, pode receber para o biógrafo o nome de lugar e projetar lugares íntimos. Assim, as suas narrativas se tornaram referência de uma memória oficial da bossa nova, do samba-canção e até mesmo de samba e Carmen Miranda, de sorte a ganhar espaço e destaque na imprensa e em diversas livrarias. |
Onde podemos ler seu trabalho?
Link do trabalho: https://repositorio.unesp.br/items/880a96c0-56db-4d31-ac8d-1d43d78e3b67
Link de outras produções: https://scholar.google.com.br/citations?user=x2lQVkMAAAAJ&hl=pt-PT
Cite cinco das suas principais referências bibliográficas.
Música Popular Brasileira:
- ABREU, Martha. Cultura Negra: festas, carnavais e patrimônios negros. Novos desafios para o historiador. Rio de Janeiro: EDUFF, 2017.
- GARCIA, Tânia. Afinidades eletivas. A Funarte e o samba carioca como patrimônio da cultura nacional. Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 9, n. 22, p. 70-92, set./dez. 2017.
- GILROY, Paul. O Atlântico negro. Rio de Janeiro: Editora 34/Universidade Candido Mendes. Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2001.
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- NAPOLITANO, Marcos. História & música: história cultural da música popular. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
- Espaço Auto(biográfico):
- AVELAR, Alexandre de Sá; SCHMIDT, Benito Bisso. (org.). O que pode a biografia. São Paulo: Letra e Voz, 2018.
- GENETTE, Gérard. Paratextos Editoriais. Trad. Álvaro Faleiros. Cotia: Ateliê, 2009.
- SCHMIDT, Benito Bisso. Quando o historiador espia pelo buraco da fechadura: biografia e ética. História (São Paulo). São Paulo, v. 33, n. 1, p. 124-144, jan./jun. 2014.
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- TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel, 1983.