“Música Nordestina” e memórias em disputa: O balanceio de Lauro Maia (1940-1960)
Autor(a)
Ana Luiza Rios Martins
Orientador(a)
Isabel Cristina Martins Guillen
Coorientador(a)
Carlos Sandroni
Instituição
Universidade Federal de Pernambuco
Tipo de pesquisa
Mestrado
Data de defesa
25/02/2019
Como você resumiria sua pesquisa em uma frase?
O lugar do gênero balanceio no debate sobre a questão nacional na música entre os anos de 1943 a 1952.
Qual a questão central da sua pesquisa?
Para compreender o lugar do gênero balanceio no debate sobre a questão nacional na música desse período, analiso a trajetória de Lauro Maia e dos conjuntos regionais Quatro Ases e Um Coringa e Vocalistas Tropicais. É mediante esse percurso que busco compreender como eles incorporaram disposições estético-artísticas próprias em suas audições cotidianas na cidade de Fortaleza vinculadas às demandas de consumo de um mercado que emergia através da negociação entre cultura de massa e a busca de um éthos fundador da identidade nacional.
Que fontes e métodos você utilizou?
O corpo documental (1943-1952) que deu base a pesquisa constitui-se, fundamentalmente, de gravações em 78rpm de músicas de Lauro Maia catalogadas e pertencentes ao acervo de Miguel Ângelo de Azevedo, um dos maiores acervos do gênero no Brasil, e de inúmeras revistas e alguns jornais publicados no Rio de Janeiro.
Ao contrário da antiga imagem harmoniosa que a historiografia atribuía à formação da música popular brasileira, observamos por meio de pesquisa empírica nas páginas de periódicos como o Carioca, A Manhã, O Malho, A Scena Muda, Revista do Rádio, Revista do Disco, Revista da Semana, Radiolândia, O Cruzeiro e Careta que a imprensa escrita contribuiu para o surgimento de disputas entre o samba, o baião e o balanceio pelo emblema da nacionalidade, o que em certa medida também passou a ser assimilado pelos próprios compositores e intérpretes.
A maioria dessas revistas prometia uma linha editorial nova com inspiração no modelo norte-americano. Colocavam-se na vanguarda da modernidade, aliando seu nome a tecnologias modernas: como a radiofonia e indústria fonográfica. Grande parte da crítica sobre música presente nessas revistas era feita por jornalistas, radialistas e empresários do ramo de disco.
Quais foram suas principais conclusões?
A pesquisa realizada no conteúdo produzido entre os anos de 1943 a 1952 sobre o balanceio revelou que o gênero passou por um processo de síntese nesse período, incorporando elementos importantes que garantiram o seu sucesso nos meios de comunicação de massa e uma posição privilegiada no campo da Música Popular Brasileira. A construção do gênero atravessa uma rede de colaboração que teve início com Aleardo Freitas, Danúbio Barbosa e Lauro Maia; passando por Humberto Teixeira e os conjuntos regionais Vocalistas Tropicais e Quatro Ases e Um Coringa.
Essa rede ganhou consistência ainda na cidade de Fortaleza, quando Aleardo Freitas e Danúbio Barbosa começaram a esboçar o balanceio em duas composições registradas como Tiririca e Maricota é a tal. Segundo Danúbio Barbosa, a percepção de um novo ritmo teria partido do próprio Lauro Maia, que teve uma carreira de destaque em Fortaleza, divulgando o seu repertório nos carnavais de rua e nos programas de rádio da PRE-9. A elaboração de uma noção estética para o balanceio estava em gestação no momento em que Orlando Silva e Dorival Caymmi alertaram Lauro Maia sobre a importância da divulgação dos ritmos cearenses.
A dimensão lírico-poética de suas letras refletia a sua íntima relação com a audição adquirida nos circuitos de músicas locais somada à intervenção do rádio. Lauro Maia abordava temas do cotidiano como um cronista musical da cidade. Através da molecagem e do deboche, influência direta da obra de Raimundo Ramos, tecia críticas sociais às camadas mais ricas em músicas como Atrás do pobre anda o diabo. Sua exaltação à malandragem na música Meu Relógio Não Faz Ku-Ko, demonstra como Lauro Maia também soube transitar entre o samba carioca e a boemia cearense.
Onde podemos ler seu trabalho?
Cite cinco das suas principais referências bibliográficas.
- ELIAS, Norbert. Mozart: A sociologia de um gênio. Rio de Janeiro: Zahar, 1995.
- BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
- CANCLINI, Néstor García. Consumidores e Cidadãos: Conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro. UFRJ Editora, 1999.
- LACAPRA, Dominick. O queijo e os vermes: o cosmo de um historiador do século XX. Topoi (Rio J.), Rio de Janeiro, v. 16, n. 30, p. 293-312, jan./jun. 2015.
- MORAES, José Geraldo Vince de. História e Música: canção popular e conhecimento histórico. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 20, n. 39, p. 203-221, 2000.