CARLOS RENNÓ
Carlos Rennó . Nascido em São José dos Campos-SP, em 29 de janeiro de 1956, Carlos Rennó narra suas memórias musicais desde a infância e evoca imagens da Era do Rádio, nos transportando a esse momento da história da música brasileira. Apaixonado pela canção popular, encontrou no elenco da Jovem Guarda substancial inspiração, seguida por artistas como The Beatles, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Wilson Simonal e Milton Nascimento. Com familiares naturais de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Bahia, Rennó possui formação cultural e artística rica em diversidade, cuja ebulição se deu em Campinas-SP, no contexto da contracultura, do “desbunde” e do movimento hippie no Brasil. Ao mergulhar nos anos de 1970, o compositor narra suas amizades revolucionárias e mostra a amplitude das comunidades afetivas e geracionais que contribuíram para a formação do seu espírito criativo. O reconhecido letrista narra o processo de autoencontro artístico ligado às linhas poéticas com as quais se identificou ao longo do tempo e aborda a importância de João Cabral de Melo Neto, à época criticado por ser “cerebral demais”, característica profundamente admirável segundo o entrevistado desta seção. Versionista, letrista, Carlos Rennó oferece grande homenagem aos poetas concretistas, alçados pelo entrevistado a integrantes de um dos capítulos mais importantes e maravilhosos da poesia brasileira nos últimos 60 anos. Ouça a entrevista completa e conheça melhor a trajetória artística e o percurso intelectual deste importante agente da cultura popular brasileira.
Escute Carlos Rennó
As três sugestões imperdíveis de “A música de”
- Pássaro Sobre o Cerrado composição de Tetê Espíndola e Carlos Rennó, gravada no disco Tetê e o Lírio Selvagem gravado na Philips em 1978.
- Bem-bom uma parceria de Eduardo Gudin, Arrigo Barnabé e Carlos Rennó, gravada por Gal Costa em 1985 na RCA Victor, a faixa deu título ao disco.
- Antes que Amanheça, uma parceria de Chico César e Carlos Rennó, gravada por Maria Bethânia em 2001 no disco Maricotinha.
A ARTISTA EM UMA IMAGEM
Fotografia é história

"A MÚSICA DE" ENTREVISTA CARLOS RENNÓ
PARTE 1/3
Na primeira parte da entrevista concedida ao portal A Música de, Carlos Rennó relembra a aproximação, ainda criança, das músicas cantaroladas por sua mãe, de Nelson Gonçalves e Dalva de Oliveira, por exemplo. Narra também as suas vivências musicais na década de 1960, com destaque para o estilo de música produzido por Roberto Carlos e Erasmo Carlos – experimentado também através do programa de televisão homônimo transmitido aos domingos pela TV Record. Rennó alça Roberto Carlos ao status de sua primeira grande referência formativa, ao mesmo tempo que recorda, em sua infância, das execuções no rádio de canções de Ray Charles, como I Can’t Stop Loving You (1962) ou Georgia on My Mind (1960), arraigadas na alma do letrista brasileiro. Também acessamos, através da lembrança de Carlos Rennó, o mundo da chamada “música caipira”, sertaneja – influência musical por parte de pai. Ao tomar a música como um legado familiar de reconhecimento do mundo, o artista ressalta a importância e a capacidade de atravessamento da música na formação do imaginário das crianças e jovens. Aliás, são surpreendentes as lembranças da juventude de Rennó, incluindo a amizade transformadora com Ana Helena Martinez Corrêa, sobrinha do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa. Acesse e confira essas e outras memórias que marcam a trajetória artística e a vida de Carlos Rennó.
PARTE 2/3
No segundo momento da entrevista de História Oral realizada com Carlos Rennó, o compositor recorda a emoção de ter suas primeiras canções gravadas, num momento de consolidação dos objetivos de sua carreira, com o lançamento do LP Tetê e o Lírio Selvagem (1978), seguido de Piraretã (1980), disco solo da cantora Tetê Espíndola. Rennó fala sobre o longo processo de “encontrar-se consigo mesmo”, que gerou a decisão de ser letrista, sobretudo a partir do contato com a família Espíndola – o compositor se torna companheiro da cantora e compositora Alzira Espíndola e, fruto da união, nasce Iara Rennó que, nos anos de 1990, inicia sua própria carreira artística. O letrista afirma, ainda, que sua constituição artística, sua singularidade na arte tem como grande referência o cantor e compositor Arrigo Barnabé, a partir de uma identificação ligada ao esforço criativo, ao empenho como motor gerador da criação, embora a espontaneidade e o talento nunca estejam totalmente excluídos. Especialmente interessante é a descrição do artista a respeito de sua participação em um movimento artístico de busca pelo novo, que ia ao encontro das ideias dos movimentos de vanguarda, como o concretismo, a partir da convivência com Augusto de Campos e do impacto deste poeta em seu trabalho. Nas palavras de Rennó: “Havia um espírito compartilhado por esses artistas”, que tinham clareza de estarem trazendo elementos para a evolução da música no Brasil. Acompanhe a entrevista e veja como a história de Carlos Rennó se mistura com a própria história da música popular brasileira.
PARTE 3/3
Na terceira e última parte da entrevista com Carlos Rennó, o letrista aborda canções específicas, resultado de parcerias importantes, como com Roberto de Carvalho. Tomando como referência Paul Valéry, Rennó define a poesia como “hesitação entre sons e sentidos no campo das palavras” e destaca a importância do som na produção de letras de músicas. Também ressalta um lado específico do seu trabalho: a alusão, aqui e ali, implicitamente, ao campo da cultura erudita, através, por exemplo, da citação de poetas latinos. O trânsito entre os mais variados mundos é exemplificado, ainda, pela canção Sou fiel, criada em parceria com Rita Lee e gravada por Negra Li (2009), feita em homenagem ao time do Corinthians, por ocasião de um evento dirigido por Rennó sobre música e futebol, quando o letrista foi diretor do Museu da Imagem e Som (MIS) de São Paulo. São muitas as memórias que entrelaçam canções, poemas e grandes artistas da música nacional e internacional, como o álbum Canções, Versões – Cole Porter e George Gershwin (1999), resultante do livro de Rennó publicado em 1991 chamado Cole Porter – Canções, Versões, que trouxe versões bilíngues para o português de canções do compositor norte-americano, além de participações do poeta Augusto de Campos, de Caetano Veloso e do maestro Cláudio Leal Ferreira. Sensível às desigualdades sociais, que entende como o nó mais perverso da constituição nacional, Carlos Rennó evidencia o hibridismo da música popular através de histórias de vida e de canções. Destaque para as canções ecológicas produzidas a partir de suas experiências no estado de Mato Grosso, a partir dos anos de 1990. Desde então, as mudanças climáticas, a destruição ambiental e aquecimento global são presentificados no trabalho de Rennó, que nos convida à capacidade poética de reflexão sobre questões sociais, ambientais e políticas.





