CLAUDETTE SOARES
Claudette Cloubert Soares (Rio de Janeiro, 31 de outubro de 1937)
Ao menos durantes três décadas consecutivas, entre os anos de 1950 e 1970, Claudette Soares foi uma das cantoras de maior sucesso popular no Brasil. Enfrentou diferentes conjunturas musicais, culturais e políticas – incluindo a instauração e o fim oficial da ditadura civil-militar de 1964 -, desde a saída dos chamados anos dourados até a emergência da música brasileira engajada e comercializada em tom de festivais. Gravou canções emblemáticas dentro daquilo que ela define como música moderna brasileira, referindo-se à Bossa Nova, além de ter ajudado a lançar sujeitos fundamentais para os caminhos da história recente da MPB como Taiguara e Gonzaguinha. A partir de fins dos anos de 1970, Claudette distanciou-se dos círculos sociais mais intimamente ligados à institucionalização deste amplo campo musical, retomando vigorosamente a carreira em 1990 com o LP Eu sei que vou te amar: A música de Vinicius de Moraes. Ao lembrar-se das múltiplas relações estabelecidas em torno da sua carreira, a cantora oferece em entrevista a A música de: História pública da música do Brasil imagens complexas de uma longa luta e de uma memória feliz, temperada por sua franqueza e bom humor: “Minha maior vingança é estar viva”.
Escute Claudette Soares
As três sugestões imperdíveis de “A música de”
- Minha saudade: composição de João Donato gravada com Alaíde Costa em disco ao vivo celebrando os 60 anos da bossa nova. Ouça no Spotify.
- Januária: canção de Chico Buarque no festejado LP de 1968 em que a cantora interpreta Gil, Chico e Caetano. Ouça no Spotify.
- Primavera: clássico de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes que é a canção mais marcante do repertório bossanovista de Claudette, em gravação de 1971. Ouça no Spotify.
A ARTISTA EM UMA IMAGEM
Fotografia é história
"A MÚSICA DE" ENTREVISTA CLAUDETTE SOARES
PARTE 1/3
“Eu quis ser cada uma delas”. Nesta primeira parte da entrevista, Claudette Soares destaca suas principais referências musicais em fins dos anos de 1950, tais como Dalva de Oliveira, Nora Ney, Linda Batista, Carmélia Alves, entre tantas outras. Notas e tons, sorrisos, roupas, cabelos e gestos são narrados como parte do repertório vivo de uma época ciosa de suas criações e classificações. “Princesinha do baião”, “Primeira dama da Bossa” e “musa da bossa” são apenas alguns dos ambíguos títulos concedidos por crítica, público e artistas à Claudette Soares, Silvinha Teles e Nara Leão respectivamente. Ponto alto da entrevista: de minissaia e voz sussurrante, a cantora se apresenta à censura e obtém liberação para continuar cantando músicas como Apesar de Você (1970), de Chico Buarque. A cada interpretação uma jogada difícil se impunha, ao preço da liberdade política, inserção musical e satisfação financeira.
PARTE 2/3
Na segunda parte da entrevista realizada por A música de com a cantora Claudette Soares, confira o testemunho nuançado e instigante da intérprete de mais de 80 anos sobre a dinâmica da construção social e econômica da MPB enquanto gênero musical institucionalizado e comercial. A adaptação das(os) artistas ao mercado dominado pelas grandes gravadoras, e a entrada brasileira em uma cena cultural marcada pelos festivais de música transmitidos pela TV apontam para memórias multifacetadas, polifônicas, silenciadas, bastante distantes das imagens mais emblemáticas reconhecidas pelo grande público como parte da luta democrático-cultural contra a ditadura. E ainda, a relação enigmática com Elis Regina com quem Claudette conviveu mais de 10 anos na gravadora Philips: descumprindo o combinado, durante show em que cantaram juntas Eu só queria ser (1965), de Vera Brasil e Miriam Ribeiro, “ela [Elis] deu a parte mais melódica pra mim, pra eu brilhar mais”.
PARTE 3/3
Na terceira e última parte da conversa de A música de com Claudette Soares, a cantora define o que entende por Bossa Nova e arrisca comentar a complicada relação do gênero com o grande público no Brasil. Incansável, Claudette se apresenta – e é reconhecida por grande parte da classe artística -, como apaixonada pelo ‘novo’, tendo sido inúmeras vezes mal interpretada pelas(os) colegas de profissão, divididas(os) entre movimentos musicais e programas de TV rivais, tais como O Fino da Bossa, exibido pela TV Record-SP entre 1965 e 1967, e o Jovem Guarda, que foi ao ar na mesma emissora e no mesmo período. Diferente de grande parte das(os) artistas que também protagonizaram movimentos musicais e culturais na segunda metade do século passado, e que também foram submetidas(os) a uma condição de margem em relação aos cânones da música brasileira, Claudette não superlativa suas memórias, não apresenta tom saudosista e continua trabalhando duro em busca de sua modernidade: “Quero gravar esses músicos mais jovens sim. Os filhos da Bossa. Tomara que eu consiga”.